Me chamou a atenção, em particular, um dos argumentos utilizados nesta convocação: que os dirigentes de terreiro não temessem, mas que não havia perigo de outros Pais/Mães-de-Santo tomarem os seus filhos para si.
Interessante perceber, que em pleno séc. XXI, no âmbito de uma religião que teve o seu início oficial no princípio do século passado, ainda persiste este tipo de mentalidade, medo e receio por parte de alguns dirigentes.
A questão de que filhos-de-santo, ao começar a frequentar outra casa, deixem a sua ou, que seja convencido a fazer isto, pelo dirigente da casa que está visitando é uma realidade que ainda perdura na mente de Pais/Mães-de-Santo.
Este tipo de coisa acontece em primeiro lugar, gerado pelo sentimento de posse, que Pais/Mães-de-Santo tem para com os seus filhos-de-fé.
Alguns dirigentes, sempre esquecem ou não gostam de se lembrar nunca, que a relação deles com seus filhos-de-santo, são de orientadores, facilitadores e educadores. Desta feita é uma relação idêntica a que um professor tem com seu aluno, sendo que no caso da Umbanda é relativo a evolução espiritual e o Pai/Mãe-de-Santo pode ser um mestre para toda a vida.
Outro fator que contribui, para que situações distorcidas como esta, ainda existam no seio umbandista é o despeito e a inimizade que dirigentes cultivam um dos outros e a concorrência, que realizam entre si.
Tudo acaba sendo fruto do que chamei, em outro artigo, de Genitocracia espiritual e o poder genitocrático atuante.
Movidos constantemente, pela inveja, orgulho e vaidade, estes dirigentes enxergam nos seus pares, inimigos e nos seus filhos-de-santo objetos de posse exclusiva.
Comumente tomamos conhecimento de proibições a filhos-de-santo de frequentarem outros terreiros, insatisfações e revoltas quando sabem que um filho esteve presente a giras em outras casas etc.
No popular, costuma-se dizer que "cada macaco no seu galho"! No caso que estou expondo, significa cada filho-de-santo com o seu Pai/Mãe-de-Santo e no terreiro que ele pertence.
O movimento umbandista é o único círculo religioso, até onde eu saiba, que ocorre este tipo de coisa. Nas grandes religiões mundiais, Catolicismo, Protestantismo, Judaísmo, Budismo e Islamismo, se você é um adepto, tem livre acesso a qualquer igreja, templo, sinagoga ou mesquita no mundo. Até mesmo fraternidades privativas como por exemplo a Maçonaria e a Rosacruz, que poderiam exigir e cobrar este tipo de posicionamento aos seus adeptos, não o fazem, liberando-os para frequentar a Loja que melhor lhes convier.
A Umbanda, dentro do seu objetivo de prover o encontro de todos, que batem a sua porta, com o Sagrado, ensinando a prática do bem, do amor e da caridade, tendo como ferramenta o uso da fé de forma racional, crítica e responsável, para promover a evolução planetária, não prega a desunião entre terreiros e a apropriação de filhos-de-santo pelos seus genitores espirituais.
Se a concretização dos sítios vibratórios de energia na nossa religião é a natureza de Deus, ela estando em toda a parte do mundo, como de fato está, significa que a Umbanda é uma religião planetária e não circunscrita apenas as quatro paredes de um terreiro ou aprisionada pelas mãos daqueles que não sabem cumprir os seus papéis nesta Obra Divina.
Todo adepto umbandista é livre e consegue criar esta comunhão com o Sagrado em qualquer tempo e local, basta para isto estar imbuído de bons propósitos.
A Umbanda nos convida diariamente a lembrarmos que todos, sem exceção, somos filhos de um único Deus-Pai, somos todos irmãos-de-fé e por isso nunca seremos donos de alguma coisa ou de ninguém e, sim merecedores constantes da Misericórdia Divina.
No popular, mais uma vez, a Umbanda deseja que aprendamos, de uma vez por todas, que: "todos os macacos estão num galho só".
Por: Pai Caio de Omulu
Fonte: Umbanda sem mistério
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